Sempre foi da natureza humana contemplar o céu noturno e sonhar com respostas para nossas incertezas e curiosidades, sobre nossa origem, sobre nosso lugar no universo… Sobre Deus.
Aprendemos lentamente a (tentar) entender o universo e tudo o que nele está. Observamos de longe através de telescópios, descobrimos novos planetas, novas galáxias… Essa compreensão direta nos influenciou em todas as esferas, desde a artística e cultural à tecnológica e filosófica. E mesmo assim, (aparentemente) continuamos sozinhos na imensidão do cosmo conhecido.
Descobrimos tanto e havia muito mais a ser descoberto, mas o mundo e o tempo continuavam a seguir em frente, e a sociedade parecia cada vez mais próxima do declínio.
Após a primeira metade da década de 2020, o superaquecimento global chegou ao ápice e cobrou um preço muito alto nos dez anos que se seguiram.
O aumento descontrolado da temperatura provocou o colapso de sistemas marinhos inteiros, secas extremas e escassez de água potável em quase todos os países, colocando o mundo em um estado crítico. A agricultura, a pecuária e a pesca sofreram danos irreparáveis. O mundo viu a escassez de alimento crescer num ritmo incontrolável. Conflitos locais por acesso a fontes de água e alimento eclodiram em muitos países, gerando destruição e migração provindas das áreas afetadas. Crises diplomáticas se tornaram cada vez mais comuns.
Países fecharam suas fronteiras para impedir a migração massiva que havia se tornado incontrolável, resultando em confrontos entre forças de segurança e migrantes desesperados (alguns países passaram a destruir embarcações e veículos suspeitos de transportarem migrantes ilegais).
Não demorou muito para que estourassem conflitos por áreas ricas em recursos naturais. A luta por acesso a alimentos, água e terras cultiváveis aumentou e com ela surgiu um extenso mercado clandestino controlado por grupos criminosos (muitas vezes patrocinados pela elite financeira mundial) que oferecia de tudo para quem pudesse pagar o preço.
Desesperadamente, muitos governos implementaram medidas drásticas para controlar o caos instaurado, mas que acabavam ampliando o abismo social — a elite financeira acabava sendo privilegiada em detrimento das camadas mais vulneráveis da população, o que gerou protestos e revoltas em muitas cidades. A criminalidade e a violência se espalharam em várias áreas urbanas. A sociedade como conhecemos estava se desintegrando completamente. A barbárie estava vencendo.
As sobras da ONU, sem força política, focava na busca de soluções científicas e tecnológicas para mitigar o superaquecimento global, sofrendo revezes cada vez mais agudos com o corte sistemático de verba recebida dos poucos países que ainda acreditavam na missão da organização.
Bastaram dez anos para que não houvesse mais um futuro.
Mas em 2037 um grupo de pesquisadores da ONU desenvolveu algo que fez o mundo parar para observar uma possível saída da crise: o motor gravitacional. Voltamos a sonhar com o futuro ao contemplar novamente para além do brilho das estrelas.
O motor gravitacional permitiu que naves espaciais manipulassem a gravidade, tornando a entrada e a saída de atmosferas muito mais eficientes. Isso abriu caminho para uma exploração mais extensa do sistema solar.
A promessa de um novo recomeço uniu o mundo novamente e em 2045, a primeira nave tripulada munida com o novo motor gravitacional estabeleceu a primeira colônia em Marte, tornando-se um centro de pesquisa e desenvolvimento, com cientistas estudando a geologia, atmosfera e recursos do planeta vermelho e suas proximidades.
Nos 15 anos que se seguiram, a humanidade se espalhou intensivamente pelo Sistema Solar e naves tripuladas exploraram Vênus, Mercúrio, Júpiter, e suas luas, bem como asteroides e cometas. A humanidade estabeleceu entrepostos de extração de recursos minerais como uma fonte vital de recursos. Nesse mesmo período foi desenvolvido uma nova liga metálica, a Duratrium, produzida pelo refinamento do Titânio, Vidrani (um novo mineral metálico totalmente vítreo encontrado no subsolo de Mercúrio) e polímeros, o que tornava o casco das naves ainda mais resistentes à radiação espacial e ondas solares.
Por mais possibilidades que a humanidade havia encontrado graças a tecnologia do motor gravitacional, ela estava limitada. Em 2079, o ápice do avanço tecnológico desta década, foi criado o motor de dobra, o que permitiu que a humanidade criasse buracos-de-minhoca artificiais, tornando as viagens interestelares uma realidade.
Um novo capítulo na exploração espacial começou.
Na década que se seguiu, à medida que a humanidade continuava a explorar e colonizar luas e planetoides, o Governo Central construiu na órbita de Marte, uma das poucas colônias sobre seu controle direto, Golem, o primeiro Estaleiro Orbital totalmente automatizado para a construção de naves espaciais massivas munidas de motor de dobra e destinadas a colonização ainda mais longínquas, e se tornou um centro importante para a construção e manutenção de naves espaciais, acelerando a capacidade da humanidade de explorar e colonizar sistemas estelares distantes.
Mas a euforia e o trabalho conjunto começaram a ser abalados pelos primeiros conflitos políticos entre o Governo Central da Terra e as colônias. As colônias, até então subservientes às diretrizes e decisões unilaterais do Governo da Terra, começaram a reivindicar mais autonomia e controle de suas operações. O Governo Central resistia a quaisquer demandas e pressões das colônias politicamente desorganizadas por independência parcial, resultando em tensões crescentes.
Os anos 2092 e 2093 marcaram o envio das duas primeiras naves coloniais ao espaço longínquo através da dobra espacial, respectivamente, a NCT Gama e a NCT Eriksson. A Gama nunca enviou notícias e depois de cinco anos desaparecida, o Governo Central nomeou os 750 tripulantes e colonos como heróis ao desbravar, como os antigos, o desconhecido e perecendo em sua jornada. A Eriksson, por sua vez, chegou a seu destino. Estabeleceu a primeira colônia pós-dobra, Esperança, e criou a primeira ponte de ligação entre duas galáxias. Os anos que se seguiram viram a partida de novas naves coloniais e a primeira fragata militar, a NMT Rainha Elizabeth, enviada para as últimas coordenadas conhecidas da NCT Gama e, assim como a nave colonial, nunca retornou comunicações, levando o Governo Central a, novamente, declarar todos os tripulantes como mortos e a designar o quadrante como proibido.
Boatos e rumores que haviam começado com o desaparecimento da NCT Gama ganharam força e mesmo que não houvesse nenhum sinal que colaborasse, muitos começaram a crer que o quadrante proibido era o lar de outra raça senciente. Os militares, que até então desempenhavam um papel menor na exploração colonial, foram fortalecidos e um segundo estaleiro orbital, EMT Valente, foi construído e este, diferente do Estaleiro Golem, possuía um motor de dobra.
Conforme a exploração interestelar se expandia, o Governo Central alcançou seu limite de produção, muito devido ao contínuo conflito com as colônias o que atrasava cada dia mais a agenda de expansão. Com isso, o Governo Central se viu obrigado a aceitar que conglomerados e corporações privadas, até então proibidas, explorassem e minerassem em outros planetas. Era uma época de novas oportunidades de enriquecimento e influência no setor, e os conglomerados investiram seus recursos massivamente na exploração e extração, criando uma competição econômica que, muitas vezes, resultava em atritos e confrontos entre as empresas por contratos cada vez mais enriquecedores.
O século virou e a primeira década de 2100 viu o agravamento dos conflitos políticos e econômicos. As colônias, principalmente as mais distantes que enfrentavam desafios únicos, começaram a formar alianças e coalizões para reforçar suas demandas de autonomia, o que intensificava os esforços em direção à independência. Os conglomerados privados aumentavam sistematicamente sua influência, participação e controle sobre a exploração espacial, e pressionavam por regulamentações mais flexíveis e vantajosas.
Em 2123, o Governo Central, lutando para manter sua autoridade, se viu de mãos atadas quando as colônias, até então desorganizadas, unirem-se sob a bandeira da Liga das Colônias, uma aliança para fortalecer suas demandas na negociação pelo reconhecimento de sua autonomia, autossuficiência e direitos na exploração espacial.
Em 2135, uma crise ambiental em uma colônia privada que fora estabelecida num planeta distante causou efeitos catastróficos no ecossistema local e levantou questões éticas e jurídicas sobre a exploração indiscriminada de recursos naturais por conglomerados privados. Nos próximos anos, seis outras crises ambientais aconteceram em outras colônias de extração, em um dos casos, matando mais de 300 pessoas.
Em 2137, surge a facção anarquista conhecida como Alvorada Estelar que defendia uma pauta de plena rejeição à autoridade do Governo Central e pregava uma autonomia total imediata em um sistema totalmente descentralizado. O movimento ganhava peso e força à medida que os colonos, principalmente os nascidos no espaço, uniam-se indiretamente à facção.
Não demorou muito e, em 2044, a Alvorada Estelar iniciou ataques de guerrilha, incluindo sabotagem de infraestrutura e sequestros de figuras governamentais em várias colônias, o que elevou a instabilidade política e econômica do sistema.
De 2048 à 2051, o conflito entre o Governo Central da Terra e a facção Alvorada Estelar se intensificou. Rebeliões eclodiram em várias colônias enquanto as forças militares tentavam conter o movimento anarquista. Muitas mortes aconteceram e tornou insustentável a continuidade da agenda expansionista.
Em 2157, após décadas de negociações, foi alcançado um acordo que reconhecia, pelo Governo Central da Terra, a autonomia parcial das colônias. O Concelho do Marco Exploratório foi formado entre o Governo da Terra e representantes da Liga das Colônias para estabelecer diretrizes para a exploração espacial responsável. A facção Alvorada Estelar foi desmantelada e seus integrantes, que não concordavam com o acordo firmado, foram presos. Muitos estão desaparecidos e são considerados perigosos.
Estamos em 2159, uma paz instável está em vigor. Os dissidentes da Alvorada Estelar ainda agem de forma isolada, mas sem causar influência no sistema. Os conglomerados privados continuam a enriquecer e influenciar cada dia mais a exploração espacial.
Ainda não foram encontrados sinais de vida senciente, porém, nas colônias, antigos boatos voltaram a circular, fortalecidos pelos rumores que artefatos alienígenas foram encontrados por inúmeras naves de exploração dos conglomerados privados. Nenhum conglomerado confirmou. O Governo Central da Terra e a Liga das Colônias permanecem em silêncio.
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Salve, salve.
Decidi dar uma pausa nos textos sobre Press Start to Power-Up!! para trazer uma introdução de Beyond the Cosmic Oddity, meu “universo” de exploração espacial influenciado principalmente por Star Trek e Starfield.
Meu foco com o Cosmic Oddity é desenvolver um material system agnostic, isto é, sem um sistema de regras atrelado, o que vai permitir que você jogue como quiser. Ainda tenho muita coisa que preciso desenvolver, mas já rodei uma aventura (que preciso editar e corrigir).
Espero que tenham curtido.
Abx
IMPORTANTE: A imagem do post foi produzida via inteligência artificial e serve apenas para ilustrar.
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